sábado, 31 de julho de 2010

A Queda

Hoje eu acordei com vontade de voar, vontade de subir no maior abismo dessa vida, de forma que eu pudesse ver o planeta inteiro de lá de cima. A experiência seria a mais rica de todas: sentir o vento mais forte que as garras da morte, sentir o perigo a pairar sobre o meu peito, sentir a vida como nunca senti antes, sentir o mundo como nunca senti antes, sentir a força da gravidade me puxando e me querendo, implorando para que eu me jogue de lá de cima e seja puxado por ela com toda intensidade que ela pudesse colocar, eu iria sentir, sentir, sentir, sentir!

Como a vida é engraçada, o perigo nos faz bem, ele é um mal prazeroso, de certa forma; sentir o perigo azunhar o seu corpo como se fosse desenhar uma tatooagem, sangrando e sangrando em seu corpo sem parar; mas essa força às vezes é branda, macia como uma pluma, como uma seda, o perigo te arranha, mas não te machuca, ele lhe causa arrepio, as agulhadas nos fazem sangrar, mas é como se aquele sangue que deslizasse a nossa pele fosse tão quente e a sensação fosse tão gostosa, que dá vontade de sentir mais; é como um vício, a adrenalina se apoderando de nosso espírito, devorando o nosso medo e aplicando-nos coragem, vontade de encarar uma descida brusca, sentir a tal da gravidade nos devorar vivos. Tudo isso para nos fazer sentir a vida, como isso é irônico...

Eu pularia daquele abismo, eu sentiria o vento dilacerar o meu corpo, e a velocidade da minha queda aumentaria e aumentaria, até meus olhos não aguentarem a pressão do ar e explodirem de alegria; eu veria o meu corpo cair, caindo com tanta intensidade, ouvindo os assovios da querida gravidade me chamando e me chamando, e me fazendo delirar de tanta alegria; eu cairia com tanto impacto no chão que ninguém poderia destinguir o que é osso e o que é carne, tamanho o estrago causado pela minha deliciosa e deleitosa queda. Eu faria outra vez, se me dessem outra vida, o prazer valeria a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário